O grande desafio em fazendas leiteiras é o de manter o menor número de vacas secas em relação às vacas em produção (principalmente em rebanhos de vacas girolandas) e o de manter a maior parte do rebanho no terço inicial da lactação, fase em que as vacas produzem mais leite. O principal fator relacionado a este desafio é a eficiência reprodutiva. Na maioria das vezes em que se fala de eficiência reprodutiva, os números analisados são: intervalo entre partos, período de serviço, número de doses por prenhez e porcentagem de vacas prenhes. Estes números não são bons para mensurar a eficiência reprodutiva por conter enormes falhas que serão discutidas.

Intervalo entre partos (IEP):


Como o próprio nome já diz, este número mede o intervalo de tempo entre dois partos de uma vaca. Sem dúvida alguma quanto menor o IEP de uma vaca, maior será sua produção ao longo de sua vida útil. Porém quando avaliamos este intervalo nos rebanhos, só estamos incluindo os animais que pariram mais de uma vez, deixando de fora todas as primíparas e todas as vacas que não emprenharam, ou seja, as vacas problemas não são avaliadas. Outro problema do IEP é que o mesmo só é avaliado após a vaca parir novamente, ou seja, quase 1 ano após as inseminações.

Período de serviço (PS):

Período de serviço é o intervalo de tempo desde o parto até a vaca ficar prenhe. Este número tem algumas vantagens em relação ao IEP, pois a avaliação é feita mais próxima do período de inseminação das vacas. Com isso podemos intervir mais rapidamente se estiver havendo falhas, e as primíparas que ficaram prenhes entram na avaliação.

Como no IEP as vacas vazias e inseminadas não são avaliadas, as vacas problemas ficam de fora da avaliação.

Número de doses por prenhez:


Avalia-se quantas doses de sêmen foram gastas para emprenhar as vacas. Este número é interessante pois é um indício da fertilidade das vacas, do sêmen e da qualidade da técnica de inseminação.

Porém não podemos avaliar isoladamente este número, pois podemos estar gastando um baixo número de doses de sêmen para emprenhar as vacas, entretanto podemos estar demorando muito tempo para inseminá-las.

Porcentagem de vacas prenhes em lactação:


Não podemos utilizar este índice para avaliar eficiência reprodutiva, já que este número sofre grande influência do descarte de vacas, sendo que na maioria das vezes descartamos as vacas vazias. Se o descarte de vacas por problema reprodutivo for alto, podemos ter uma porcentagem de vacas prenhes alta em determinado momento.

Avaliando eficiência reprodutiva:


Para sabermos a eficiência reprodutiva de nossos rebanhos devemos avaliar a velocidade em que as vacas ficam prenhes e para isso usamos a taxa de prenhez. Dois índices compõem essa taxa, o primeiro é a taxa de inseminação e o segundo é a taxa de concepção.

Taxa de Inseminação:

As vacas apresentam cio a cada 21 dias em média, sendo assim, todas as vacas aptas a serem inseminadas deveriam ser inseminadas neste período de 21 dias.

Para medir a taxa de inseminação devemos levantar quantas vacas temos aptas a serem inseminadas no rebanho a cada 21 dias.

Vacas aptas são aquelas que passaram pelo período voluntário de espera e que não estão prenhes. Vacas inseminadas também são aptas já que podem repetir cio.

Ao final do período de 21 dias devemos levantar quantas vacas foram inseminadas neste período.

Exemplo:
Dia 1: Levantamos que temos 100 vacas aptas.
Dia 1 a 21: Levantamos que inseminamos 40 vacas.
Taxa de Inseminação: 40/100 = 40%, ou seja, inseminamos apenas 40% das vacas que poderiam ser inseminadas.

Taxa de Concepção:

A taxa de concepção representa o número de vacas que ficaram prenhes em relação ao número de vacas que foram inseminadas em um determinado período.

Como já dito anteriormente, esta taxa é um indício da fertilidade das vacas e do sêmen e da qualidade da técnica de inseminação.

No exemplo usado para taxa de inseminação inseminamos 40 vacas, agora queremos saber quantas destas vacas ficaram prenhes.

Exemplo:
Das 40 vacas inseminadas 12 ficaram prenhes ao diagnóstico de gestação.
Taxa de Concepção: 12/40 = 30% de concepção, ou seja, a cada 100 vacas inseminadas apenas 30 ficaram prenhes.

Taxa de Prenhez:


A taxa de prenhez representa o número de vacas que ficaram prenhes em relação ao número de vacas aptas a ficarem prenhes.

Exemplo:
Dia 1: Levantamos que temos 100 vacas aptas.
Dia 1 a 21: Levantamos que inseminamos 40 vacas.
Dia do diagnóstico de gestação: Levantamos que 12 vacas ficaram prenhes.

Taxa de Prenhez: 12/100 = 12%, ou seja, a cada 21 dias apenas 12% das minhas vacas aptas ficaram prenhes.

Calculando este índice sabemos a velocidade com que emprenhamos as vacas do nosso rebanho.

Os números utilizados em nossos exemplos parecem ser muito baixos, porém em nossa opinião, eles estão bem próximos da realidade de quem trabalha com vacas holandesas puras no Brasil. O desafio para quem busca melhorar a eficiência reprodutiva do seu rebanho, é mensurar estes índices e trabalhar com o objetivo de aumentar a velocidade com que os animais ficam prenhes.

Ferramentas para melhorar a eficiência reprodutiva

Qauando avaliamos a eficiência reprodutiva de um rebanho, queremos saber com qual velocidade suas vacas estão ficando prenhes. Para isso calculamos a Taxa de Prenhez, que é composta pela Taxa de Concepção e pela Taxa de Inseminação. Se quisermos melhorar a eficiência reprodutiva, precisamos trabalhar bem estes dois números.

Taxa de concepção

A Taxa de Concepção é influenciada por três fatores: Técnica de Inseminação, Fertilidade do Sêmen e pela Fertilidade da Vaca.

Técnica de Inseminação


Devemos estar preocupados com a técnica de inseminação, pois a mesma pode interferir diretamente nos resultados da reprodução. Devemos ter inseminadores bem treinados e para isso é necessário proporcionarmos a reciclagem periódica dos mesmos.

Devemos correlacionar concepção com inseminadores para sabermos qual inseminador tem melhores resultados e procurar melhorar os resultados de quem estiver com piores índices.

Fertilidade do Sêmen


Normalmente, quando obtemos um resultado ruim quanto ao desempenho reprodutivo de um rebanho, logo pensamos no sêmen. Este item pode influenciar muito os resultados da reprodução. O ideal é que tenhamos informações sobre a qualidade do sêmen que estamos utilizando na propriedade, a fim de minimizarmos esta variável. Para isso, basta fazermos uma análise da qualidade de cada partida do sêmen no momento da sua compra.

Precisamos também estar preocupados com a conservação da qualidade do sêmen, e para isso precisamos conferir o nível de nitrogênio do botijão de armazenamento, reabastecendo o mesmo sempre que necessário.

Fertilidade da vaca

Vários fatores influenciam a fertilidade das vacas:

• Produção de leite - Vários trabalhos têm demonstrado que quanto maior a produção de leite da vaca, piores são os resultados da reprodução. Isso se explica pelo fato que vacas de alta produção têm alto consumo de matéria seca e, portanto alto metabolismo no fígado. Os hormônios da reprodução são metabolizados neste órgão. Quanto maior for o metabolismo hepático, menor será a concentração destes hormônios, influenciando negativamente a reprodução.

As vacas de alta produção são as mais eficientes do sistema, diluindo os custos de produção, portanto queremos estes animais em nossas fazendas. Temos que fazer bom uso de todas as ferramentas viáveis para emprenhar estas vacas rapidamente.

• Utilização de BST - Este hormônio é utilizado para aumentar a produção de leite das vacas e com isso diluir os custos de produção, aumentando o faturamento das fazendas. Como discutido, o aumento da produção pode piorar a fertilidade das vacas.

Vários trabalhos têm demonstrado que a aplicação de BST em vacas leiteiras na hora da inseminação, causou o incremento na taxa de concepção destes animais através do estímulo ao desenvolvimento embrionário.

• Manejo pré e pós-parto - Um manejo adequado das vacas durante o pré e pós-parto é fundamental para que tenhamos bom desempenho reprodutivo durante a lactação. A reprodução é afetada diretamente por falhas neste período.

Alguns trabalhos têm demonstrado que problemas tais como: retenção de placenta, metrite, deslocamento de abomaso, cetose, hipocalcemia, doenças de casco e mastite, interferem negativamente na concepção das vacas. A perda de condição corporal também interfere no desempenho reprodutivo do rebanho. Por isso temos que nos preocupar com o manejo pré e pós-parto para minimizar estes problemas.

• Estresse térmico - Os embriões são muito sensíveis ao estresse térmico, principalmente nos primeiros dias de vida. Os resultados de concepção normalmente pioram no verão. Precisamos adotar estratégias para minimizar o efeito do calor, principalmente nos meses mais quentes e úmidos do ano.

• Sanidade - Devemos garantir a sanidade de nossos rebanhos com um bom esquema de vacinações contra as doenças que interferem na reprodução, tais como: IBR, BVD, Leptospirose, Brucelose e Neospora.

Também é necessária uma rotina de exames no rebanho, principalmente quando adquirimos animais de outra propriedade.

• Utilização de GnRH cinco dias após a inseminação - Alguns trabalhos demonstram que o utilização deste hormônio no quinto dia após a inseminação pode aumentar a concepção, através da indução na formação de um corpo lúteo acessório e, portanto aumentar a produção de progesterona que o hormônio responsável pela manutenção da gestação.

Outra ferramenta importante é correlacionar os resultados da concepção com a fase da lactação e o período do ano, a fim de que possamos direcionar a utilização dos touros melhores e mais caros para a época na qual obtemos melhores resultados, fazendo uso mais racional do sêmen.

Taxa de inseminação


O principal objetivo de um programa de melhoria da eficiência reprodutiva em rebanhos leiteiros é aumentar a velocidade com que emprenhamos nossas vacas. Se soubermos o número de doses de sêmen necessárias para emprenhar um animal, é desejável que o façamos o mais rápido possível, e para isso devemos aumentar a pressão de inseminação das vacas. Podemos melhorar muito a eficiência reprodutiva se melhorarmos a Taxa de Inseminação.

Na nossa opinião, este é um grande problema em muitas fazendas e só não é relatado mais freqüentemente, porque são poucas as propriedades que realizam o levantamento completo das informações e índices reprodutivos do rebanho.

Discutiremos a seguir os fatores que podem melhorar a eficiência reprodutiva.

Observação de cio

Muitas vezes não dedicamos o tempo adequado à detecção de cio do rebanho, e só observamos àquelas vacas que aceitam monta. Quanta tempo e energia estamos gastando com o fator que mais pode influenciar os resultados do nosso sistema de produção?

As vacas de alta produção geralmente não são mantidas a pasto, e apresentam cio mais curto além de demonstrarem menos os sinais extermos de cio. Estamos diante de um desafio, e diante dele temos que ser mais eficientes.

Não adianta colocarmos rufiões junto das vacas se não tivermos alguém para anotar as vacas em cio. A maneira mais barata, e talvez mais fácil de se incrementar a eficiência reprodutiva dos rebanho leiteiros, é melhorar a detecção de cio nas propriedades.

Quando as vacas estão ciclando e ainda não conceberam, estes animais repetem cio em média a cada 21 dias. Diante desse fato, podemos preparar periodicamente um relatório das vacas que foram inseminadas, em média, a 21 dias atrás e checar se há algum destes animais em cio.

Naquelas fazendas em que se registra a produção de leite invidual das vacas diariamente, pode se checar os animias que apresentaram queda na produção leiteira em uma determinada data, e verificar se os mesmos estão em cio.

Diagnóstico de Gestação

Quando realizamos o diagnóstico de gestação do rebanho, estamos preocupados em identificar as vacas prenhes para que possamos calcular a sua taxa de concepção. Tão importante quanto detectar os animias prenhes, é identificar imediatamente as vacas vazias para que possamos atuar sobre as mesmas, realizando nova inseminação o mais rápido possível.

• Diagnóstico precoce - Quanto mais precoce for o diagnóstico de gestação menor será o intervalo entre as inseminações das vacas que estiverem vazias. Com o advento da ultra-sonografia podemos realizar o diagnóstico preciso das vacas prenhes aos 28 dias após inseminação, já através de palpação retal, somente podemos realizar este mesmo diagnóstico aos 35 dias após a inseminação.

• Freqüência de Diagnóstico - Quanto maior a freqüência de diagnóstico, mais rapidamente detectamos as vacas vazias e prenhes. Não adianta fazermos um diagnóstico precoce se a freqüência do mesmo é pequena.

• Confirmação de prenhez - Vários estudos têm demonstrado que as perdas embrionárias em vacas de leite nos primieros 70 dias de gestação são de 15 a 30%. Este fato é um grande desafio para a pecuária leiteira. Sabendo disso devemos palpar novamete as vacas que já tiveram sua prenhez confirmada, na tentativa de identificarmos os animais que sofreram perda embrionária.

Na nossa opinião devemos confirmar a prenhez aos 60 dias após a inseminação e no momento da secagem das vacas.

Inseminação em tempo fixo

A utilização desta ferramenta aumenta a taxa de inseminação, pois podemos inseminar todas as vacas que não foram cobertas em uma data marcada. Em nossa experiência, temos bons resultados de concepção nas vacas inseminadas com esta técnica, comparando com a concepção nas vacas inseminadas após observação de cio. Importante lembrar que a adoção desta tecnologia não exclui a observação visual de cio das vacas.

Após a discussão de vários itens que podem causar o incremento da eficiência reprodutiva de rebanhos leiteiros, gostaríamos de concluir que devemos detectar quais são os pontos falhos em cada situação e atuar sobre os mesmos o mais rápido possível.