A preservação ambiental atrelada à tecnificação têm sido fortes aliadas para o desenvolvimento sustentável da Fazenda São Francisco. Localizada no Município de Frei Gaspar, aproximadamente a 15 km de Itambacuri e a 30 km de Teófilo Otoni, a fazenda tem investido em novas tecnologias, melhoramento genético e nutrição animal, o que vem garantindo um retorno positivo. A fazenda São Francisco é parceira e usuária do IDEAGRI.

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O proprietário, Marcelo Dornelas Cerqueira, de 58 anos, comemora os bons resultados que se justificam pelo amor ao campo que o acompanha desde a infância. Filho de produtores rurais, Marcelo e a família deixaram Muriaé (MG) em 1959 e partiram para a região de Itambacuri, onde adquiriram uma fazenda e ali se fixaram.

Há aproximadamente 30 anos, Marcelo Cerqueira comprou os seus primeiros pedaços de terra e conseguiu ampliar a fazenda, mediante a compra de terrenos vizinhos, até chegar a atual disposição da Fazenda São Francisco. "Quando comprei a fazenda, não tinha um pé de capim, não tinha estrada, não tinha casa, não tinha nada. Fui ajeitando tudo aos poucos e, naquela época, procurei o IBAMA. Eles me orientaram quanto à maneira de formação da fazenda e, hoje, tenho mais de 20% de reserva legal, de mata virgem. Desmatei de acordo com as orientações do IBAMA, no sentido de preservar as áreas mais altas e perto de córregos. Hoje, o trabalho de preservação continua e todas as nossas lavouras são feitas em plantio direto. Assim, garantimos a preservarão do solo", explica.

Com uma área total de 395 alqueires, a fazenda se encontra dividida em setores. Segundo o proprietário, o setor São Francisco é dedicado exclusivamente ao gado de leite. O setor Papagaio é voltado para a engorda, reprodução e é onde se produz o gado leiteiro. "Nesse setor, temos vacas azebuadas, onde se fazem as mestiças para atender ao São Francisco", salienta Marcelo. Já o setor denominado Córrego da Areia e dedicado a recria, onde se faz a engorda de bezerros para a produção de gado de corte.

O setor São Francisco possui, sozinho, 140 alqueires de terra e garante uma produção média de 3 mil litros de leite por dia para a fazenda. O gado leiteiro é meio-sangue, 5/8 e 3/4. "Nessa região, antigamente, não se tirava leite. O leite era de aproveitamento e só tinha gado de corte. Não é por menos que Carlos Chagas é a capital do gado de corte. Quem tirava 100 litros de leite, tirava muito. Até há pouco tempo, falavam que gado de leite aqui era só até meio-sangue, porque não havia clima bom para 3/4. Mas isso não é verdade. Estamos tendo resultados muito bons com a 3/4. O que faz sentido é criar estrutura e, principalmente, oferecer boa alimentação para o gado. Se você oferece uma boa alimentação, esse gado mais puro vai responder mais do que uma vaca meio-sangue”.

O plantel da Fazenda São Francisco é de aproximadamente 300 vacas, além das crias, e possui uma média de 180 vacas paridas durante o ano. A meta do proprietário é colocar uma média de 240 vacas em lactação e trabalhar com uma produção em torno de 4 mil a 5 mil litros de leite. "Nós consideramos que mais de 90% da estrutura está montada para isso. No Papagaio, estamos produzindo o gado leiteiro, então, estão vindo novilhas para o setor São Francisco. Assim, a gente tem condição de tirar as vacas mais velhas, vacas de menor produção. A nossa meta agora é produzir de 15 a 20 litros de leite por vaca/dia.".

Dentista por formação, Marcelo Cerqueira é casado há 31 anos com a dentista Dores Guimarães Cerqueira, com quem teve quatro filhos O casal é parceiro na administração da fazenda. "A gente começou com a criação do gado Zebu. Era feita a estação de monta e colocava-se o holandês. Fazíamos o meio-sangue e vendíamos todo esse gado. Depois, a gente começou a segurar essas crias, começamos a tirar leite e, a partir daí, fomos nos entusiasmando com o leite e, em cima das meio-sangue, colocamos outra vez o gado holandês. Fizemos também as 3/4; nessas 3/4 a gente volta para o Zebu, nesse caso o Gir", explica.

Ele e a esposa raramente vão à fazenda durante a semana e ficam por conta da parte de informatização da propriedade. Todos os dados da fazenda são lançados pela esposa no programa IDEAGRI, um programa de controle zootécnico, sanitário e financeiro. Hoje, o controle financeiro da fazenda não e feito pelo programa, mas, Segundo Marcelo, em breve será implantado.

Mão-de-obra e Assistência Técnica

O crescimento de uma fazenda tecnificada vai além da aspiração de seu proprietário. Por isso, a Fazenda São Francisco conta com o suporte de vários funcionários e uma assistência técnica especializada, que atuam de forma complementar para o fomento das atividades desenvolvidas no local. Na área do campo, a fazenda conta com a assistência técnica do medico veterinário Claudionor Ramos de Figueiredo, que assiste na parte reprodutiva, sanitária e financeira, através de um programa do SEBRAE, o Educampo. Já o medico veterinário Percival Firmato de Almeida Júnior, presta assistência à fazenda de 15 em 15 dias, na parte de nutrição, manejo e planejamento. Além da Fazenda São Francisco, Percival também presta assistência a mais 11 fazendas na região. Nesse cenário, Marcelo Cerqueira explica que seria impossível, para qualquer pessoa, entrar nesse ramo sem ter uma boa assistência. "A fazenda é como uma empresa, se não tiver uma boa assistência técnica, não tem como desenvolver o trabalho, e isso tem que funcionar em conjunto com o proprietário e a mão-de-obra empregada. Por isso é que sempre procuramos profissionalizar os nossos funcionários, pois, assim, a qualidade do funcionário se traduz em qualidade de leite”;

Tecnologias

Em meio ao desenvolvimento e ao emprego de novas tecnologias na fazenda, a ordenha mecânica constituiu um verdadeiro divisor de águas na propriedade. "Em relação há um ano, quando não se tinha a ordenha mecânica, podemos afirmar que a fazenda mudou completamente. Com isso, veio a necessidade de se fazer o treinamento da mão-de-obra, que até então nunca tinha trabalhado com a ordenha mecânica. Fiz o acompanhamento dos funcionários no início para impulsionar o processo de treinamento e depois trouxemos um técnico do SENAR, que permaneceu uma semana na fazenda, realizando treinamento com os funcionários. Isso foi de fundamental importância. Veio, então, a necessidade de tirar os bezerros das vacas, o que implicou em outro processo. Tivemos que implantar um sistema para a criação de bezerros fora da mãe. Tudo isso veio acompanhado de uma gama de tecnologia e de manejo para o qual a fazenda não estava acostumada a lidar", explica Percival.

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Próximo ao espaço destinado à ordenha, a fazenda conta com um lava-pés, que é mantido cheio de água. As vacas, obrigatoriamente, passam por essa estrutura e, a cada instante que a vaca molha as patas, o animal é estimulado a defecar. O objetivo, segundo Percival, é que o estrume se concentre na sala de espera, de modo a evitar que a vaca defeque durante a ordenha. O veterinário Percival Firmato salienta que a água é um componente de fundamental importância na sala de espera. "87% do leite é composto por água e, por isto, não pode faltar água limpa e de boa qualidade para as vacas de forma alguma, sendo um dos elementos essenciais para a boa produção dos animais. Por isso, outra preocupação é que na saída da sala de ordenha, elas também tenham acesso à água. Existem, inclusive, pesquisas que apontam que, em torno de 40% da água que a vaca ingere durante o dia, é ingerida após a ordenha.", comenta.

A Fazenda São Francisco conta também com um tanque de resfriamento e todo o leite é vendido para a Cooperativa dos Produtores Rurais de Itambacuri (Copril). Após a ordenha, o leite passa por canos e é lançado diretamente no tanque, que comporta 6 mil litros. Esse leite e recolhido a cada dois dias. Logo após cada ordenha, as tubulações são lavadas com água, a uma temperatura de 70ºC. Para isso, contam com um sistema de aquecimento solar aliado à energia elétrica. A fazenda também possui um sistema de aquecimento a gás, mas é pouco utilizado. O proprietário garante que, para a segurança de todo esse processo, um gerador de energia a indispensável.

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Marcelo Cerqueira, proprietário da Fazenda São Francisco, mostra tanque de resfriamento de 6 mil litros.

O período padrão de lactação das vacas e de 305 dias, mas na Fazenda São Francisco, faz-se o uso de tecnologias como a Somatotropina bovina (BST), um hormônio que permite estender a lactação das vacas. Assim, Percival esclarece que com esse mecanismo, as vacas conseguem produzir mais, por um período maior. Segundo ele, a fazenda possui vacas com 300 dias de paridas produzindo de 27 a 28 litros de leite, o que reflete um aumento na média de produção da fazenda. Com a tecnologia da ordenha mecânica, a criação dos bezerros também sofreu modificações. Marcelo Cerqueira esclarece que, quando a vaca pare, o bezerro e apartado da mãe no mesmo dia. Nos primeiros cinco dias de vida, o bezerro é alimentado com o colostro e, após esse período, fornece-se ao animal, sucedâneos lácteos, como o leite em pó (que é manipulado com um pouco de leite de vaca). Após 15 dias de nascimento, o animal passa a receber só o leite em pó, que possui um custo menor que o leite da vaca. Os bezerros são criados em baias e dispostos nos piquetes conforme a idade. "Esses animais são manejados em lotes pequenos, para facilitar a detecção de doenças e para uma melhor observação por parte do tratador, mas queremos implantar aqui o sistema de bezerreiro argentino. Nesse caso, tem-se uma faixa de sombra, onde os bezerros ficam amarrados numa correntinha e correm pelo arame, sem o contato um com o outro. Quando a gente individualiza esses animais, a transmissão de doenças é menor, e assim temos um acompanhamento melhor. Essa seria uma evolução do sistema que a gente aplica aqui. Algumas fazendas já estão adotando esse sistema argentino, como na região de Teófilo Otoni e Nova Módica, que já estão dando bons resultados”.

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Na fazenda São Francisco, os bezerros são apartados após o nascimento e são criados em regime de baias.

A preocupação do proprietário da fazenda com o meio-ambiente vai além da preservação das matas. O próximo investimento da fazenda está focado na proposta de se dar um fim adequado aos dejetos dos animais. Segundo o veterinário Percival Firmato, os dejetos mal manejados podem provocar danos ao meio ambiente, principalmente em cursos d'água. Por outro lado, quando se dá um destino correto aos excrementos, eles podem se transformar em adubo e ser aproveitados dentro da própria fazenda. Não é por menos que a Fazenda São Francisco está estudando a implantação de um sistema de tratamento de dejetos no local, em breve.

Nutrição de animais

Além de ser cortada por muitas nascentes, o que garante água em abundância para o gado, um ponto de destaque da Fazenda São Francisco é a produção de volumosos. "É uma fazenda onde não se passa aperto com volumoso. Na época das Águas deste ano, foi a primeira vez que a gente teve condição de trabalhar com o semi-confinamento, nesse período. Os lotes de maior produção, ou seja, as vacas que produzem mais leite recebiam uma suplementação volumosa no cocho, nos intervalos de ordenha. Isso possibilitou um ganho de produtividade muito grande na fazenda. Conseguimos aumentar a produção de leite, já que a média por vaca/dia caía bastante nessa época, em relação à seca, período em que as vacas são confinadas. Neste ano, o gado foi semi-confinado nas águas e agora estamos no período de transição, então, vamos confinar as vacas. Um confinamento total. Para isso, temos que ter uma estrutura de produção de volumoso grande. A base do sucesso de uma fazenda de leite é um volumoso de qualidade, pois reduz o custo alimentar e garante uma melhor produção", explica Percival.

Percival Firmato é o responsável pela dieta do gado e tem demonstrado, através do seu trabalho, que o importante numa fazenda é dar condições para as vacas produzirem o leite. A prova disso são os diversos troféus de campeão de torneios leiteiros espalhados pelo escritório da fazenda. No período das águas, a propriedade emprega na alimentação a silagem de milho, silagem de sorgo e pasto, além de contar com a alimentação concentrada que é feita na própria fazenda. Cada lote de produção recebe uma dieta específica, levando em conta o volumoso, produção das vacas, estágio da lactação e situação reprodutiva. Calcula-se a exigência nutricional e balanceia-se um concentrado. Já na época da seca, trabalha-se, basicamente, com silagem de milho ou silagem de sorgo, sem se esquecer da cana, que é bastante empregada nesta época. Nesse caso, não há pastejo e as vacas permanecem praticamente confinadas.

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Melhoramento Genético

O melhoramento genético na Fazenda São Francisco é constante. Todo o gado da fazenda é inseminado artificialmente e utiliza-se, de acordo com a necessidade, a técnica de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). Além disso, o veterinário Percival Firmato garante que essa é a melhor época pare se enxertar as vacas, principalmente as vacas de leite, já que o clima se encontra mais fresco e dessa forma tem-se uma taxa de concepção melhor. Nessa perspectiva, as vacas irão parir no final das águas e início da seca, no primeiro ano. Diante disco, o proprietário poderá intensificar o manejo reprodutivo.

Em 2009, outras ações também foram adotadas pela fazenda, no sentido de melhorar a genética dos animais. "No final do ano passado foi feito um acasalamento geral do rebanho, uma classificação vaca por vaca, e que touro seria indicado para cada uma delas. Essa classificação foi feita para as vacas mestiças, levando em conta qual touro holandês se encaixaria para consertar algum possível defeito que aquela vaca teria. Para isso, contamos com o suporte de um técnico de uma empresa de genética bovina.", afirmou Percival.

Fonte: Revista Agrominas, 4ª edição, julho de 2010.