Cooperativa gaúcha investe em assistência técnica e no aumento de sua capacidade de processamento de lácteos de maior valor. Fundada há mais de 50 anos, a Cooperativa Agropecuária Petrópolis, detentora da marca Piá, se mostra fiel às suas raízes, num momento em que projeta a expansão de seus negócios: focar na assistência técnica a seus produtores para que avancem em produtividade, qualidade e rentabilidade. A equipe de técnicos da Piá utiliza o Sistema de Gestão IDEAGRI no trabalho com os cooperados. Para ampliar a colocação de suas diversificadas linhas de produtos lácteos em novos mercados, a Piá precisa aumentar a captação de matéria-prima de alta qualidade.

SOBRE A PIÁ

Com sede em Nova Petrópolis, a noroeste do Estado, na Serra Gaúcha, tem sua origem nos imigrantes alemães. Atualmente, é composta por cerca de dois mil associados. Com a proposta de trazer desenvolvimento econômico e social aos produtores locais, a cooperativa mantém e reforça sua política de capacitação e profissionalização na busca de matéria-prima de qualidade e baixo custo, o que cada vez mais ganha importância por sua meta de expansão de mercados com produtos de maior valor agregado. Sua produção abastece quatro estados (RS, SC, PR e SP). 

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Piá faz investimentos em ampliação e lança novas linhas de produtos Modernização da fábrica com maior capacidade de processamento de leite

 

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Desde 2011, a Piá já fez investimentos da ordem de R$ 100 milhões na ampliação de seus negócios, como na sua nova fábrica de iogurtes (R$ 85 milhões), inaugurada em 2017, que triplicou sua capacidade de produção, outros R$ 15 milhões na fábrica de processamento de frutas. E continuamente vem investindo na inovação de seu mix de produtos lácteos e na prestação de serviços aos cooperados.

De sua captação diária de 420 mil litros de leite, cerca de 60% são transformados em leite UHT, que representam 40% de seu faturamento, enquanto o restante é processado em iogurtes, bebidas lácteas, manteiga, doce de leite e outros, sendo responsável por 60% de sua receita com o leite. “Estamos dependentes do UHT, que é uma commodity, cujos valores têm oscilado muito e se mostrado insatisfatórios”, afirma Jeferson Smaniotto, presidente da Piá. Assim é que a estratégia em andamento é a de alterar esta composição do destino do leite, com 60% a 70% dele passando a ser utilizado na obtenção de produtos mais elaborados com aumento do faturamento e possibilidade de melhoria da remuneração ao associado, como salienta.

 

Para isso, inauguraram no ano passado uma nova planta com capacidade para produzir 500t/dia destes produtos de maior valor agregado, o que representa mais de três vezes sua capacidade anterior. Também foi instalada uma nova unidade de processamento de frutas (marmelo, uva, morango e outras) para a obtenção de 450 t/mês de produtos, contra 100 t/mês de antes, parte utilizada para incorporação aos iogurtes e bebidas lácteas. A fruticultura é outra atividade da cooperativa que conta com 364 associados responsáveis por 17% do faturamento de R$ 580 milhões que obteve em 2017.

Na busca por crescimento e conquista de mercados, Smaniotto salienta a importância de o produtor se profissionalizar e ofertar uma matéria-prima de qualidade. “Damos muita importância para a assistência técnica e o gerenciamento, para que a propriedade seja sustentável, produza mais leite e por um custo menor”, afirma.
Vale registrar que no ano passado a cooperativa recebeu o prêmio “Destaques”, concedido pelo Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), por sua inovação em processos e produtos. Também lançou 13 novos derivados e este ano deverá ter outros seis inéditos.

COMPROMETIMENTO COM A QUALIDADE – Presente em 85 municípios, o sistema de produção mais comum entre os associados é o semi-confinado, com uso de pastos de inverno e de verão, com suplementação no cocho através da silagem de milho e concentrado. Já nos associados de maior porte são encontrados os sistemas de free-stall e compost barn.

A raça predominante é a Holandesa PB, seguida pela Jersey e rebanhos formados a partir da cruza entre as duas, com a média geral de produção ficando entre 20 e 25 litros de leite/dia. Porém, igualmente existem animais acima de 33 litros/dia e que atingem mais 12 mil litros na lactação, ajustados aos 305 dias.

A maior parte do leite captado, ou 57% dele, é originária de produtores entre 100 e 500 litros de leite/dia e que representam 50% dos associados. Outros 30% do volume são fornecidos por 8% das propriedades, que são as de maior porte e que produzem de 500 a mais de 1.000 litros de leite/dia, enquanto 42% dos associados são de propriedades familiares de pequeno porte com até 100 litros de leite/dia, as quais respondem por 13% do volume.

“Não é o porte do produtor que determina a qualidade do leite que entrega ou a sua eficiência”, afirma o médico veterinário Adroaldo Boschi, responsável pela área de assistência técnica da cooperativa. A qualidade do leite, como enfatiza, está muito mais ligada ao comprometimento e a adesão dos produtores aos aspectos técnicos e recomendações.

Ele conta que todas as propriedades são acompanhadas com vistas à adequação do leite à legislação (Instrução Normativa nº 62) e às necessidades do laticínio, “pois temos plena consciência de que isso guarda relação direta com o rendimento industrial do leite e a qualidade dos produtos que ofertamos”, enfatiza Boschi. Os produtores que se encontram fora dos padrões recebem visitas do corpo técnico, que os orientam nos ajustes necessários.

A IN nº 60 preconiza atualmente uma contagem bacteriana total (CBT) de até 300 mil UFC/ml e de 500 mil/ml para a contagem de células somáticas (CCS). O trabalho da cooperativa tem resultado numa boa evolução desses parâmetros e, embora muitos dos produtores já estejam dentro deles, a média dos associados precisa continuar a evoluir. Considerando o período de 2010 até 2017, a CBT média se reduziu em 51% e atingiu 588 mil UFC/ml, enquanto a CCS teve queda de 9% e ficou em 718 mil/ml.

Quanto aos sólidos, ele diz que a cooperativa estabelece como meta um extrato seco desengordurado (extrato seco total menos o teor de gordura) mínimo de 8,4%, que é um bom indicativo dos sólidos, enquanto na média este tem se situado acima com 8,55%.

Quando à proteína e à gordura, que também são acompanhadas, avalia que não enfrentam limitações, já que podem e são ajustadas através da dieta. O teor de gordura tem se mostrado em 3,7%, e o de proteína, em 3,45%, em especial no inverno quando são utilizadas áreas de aveia e azevém. Em outras épocas do ano, pode-se recorrer a concentrados produzidos pela própria cooperativa para elevar seu nível.

PAGAMENTO POR QUALIDADE - O médico veterinário Boschi salienta que a produção de um leite de qualidade exige alguns fundamentos como assistência técnica, pagamento diferenciado, treinamento e capacitação da mão de obra. Neste contexto, indica a reciclagem periódica que também é realizada pela cooperativa com os transportadores de leite terceirizados. Um dos pontos principais é a coleta das amostras, feita com todos os cuidados, para que não haja interferência nas análises laboratoriais.

O programa de pagamento por qualidade, como informa, comporta vários adicionais no valor do leite em função de sua composição e da estrutura de produção disponível, a maioria deles ficando em R$ 0,02/litro. Estes estão relacionados à CBT abaixo de 100 mil UFC/ml e a uma CCS inferior a 400 mil/ml, não havendo penalizações para números acima. Há bonificação para extrato seco desengordurado superior a 8,5% e para níveis de gordura mais elevados.

No ano passado foi incluída uma nova premiação por litro de leite atrelada à estrutura de resfriamento e sala de ordenha, esta última também refletindo em uma maior agilidade no trabalho, higiene e qualidade de vida. Existem produtores, como lembra Boschi, que têm a ordenha com balde ao pé, enquanto o mais adequado seria um fosso, estrutura de contenção e leite canalizado.

Relacionada a sanidade animal, pode ocorrer uma bonificação, também por litro de leite, que vem através das propriedades que estejam adequadas ao Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCE-BT). O veterinário comenta que a maioria dos produtores recebe, em algum grau, essas bonificações.

Em 2016 a cooperativa começou a participar do Programa Alimento Seguro (PAS-Leite), com adesão voluntária dos produtores. Ele é composto por uma etapa de treinamento incluindo manejo de ordenha, instalações e outros, com as propriedades depois auditadas pelo sistema Sebrae/Senar. As certificadas recebem um adicional de R$ 0,02/litro de leite.

A equipe técnica da cooperativa é composta de 16 veterinários que atendem a questões clínicas pontuais além de reprodução, nutrição, entre outras. Especificamente na área da qualidade do leite são mais cinco técnicos, sendo que igualmente é dado apoio na área de melhoramento genético e é possível recorrer a inseminadores terceirizados, bem como a técnicos que se encontram em uma de suas nove lojas de insumos agropecuários.

Para a difusão das tecnologias são promovidos dias de campo, palestras, e as propriedades recebem visitas da equipe técnica, que poderão ser pontuais para resolver alguma questão ou orientações eventuais, a depender da necessidade.

Há três anos a cooperativa passou a integrar o Programa Mais Leite Saudável, que é realizado com recursos oriundos de parte dos créditos presumidos do PIS/Cofins da empresa, que devem ser aplicados em atividades de fomento em projetos aprovados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa). Através dele os produtores recebem acompanhamento mensal permanente, quando são realizados ajustes na alimentação, são verificadas questões relacionadas à qualidade do leite, gerenciamento e melhoramento genético.

Considerando dados disponíveis do primeiro ano do projeto, as propriedades assistidas em 2016, na comparação com o ano anterior, reduziram a CBT, em média, em 31%, chegando a 231 mil UFC/ml. Com a CCS, a queda média no mesmo período foi de 8%, atingindo 457 mil/ml, enquanto o volume de produção de leite cresceu 13%.

O médico veterinário Adroaldo Boschi afirma que os resultados do acompanhamento nestas propriedades têm sido muito bons e coloca como uma das metas atuais o aumento no número de produtores assistidos. Atualmente são 210 associados que respondem por 25% da captação diária, mas se organizam para que chegue a 350, responsáveis por 45% do volume total.