Na coluna do Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB), publicada na edição de número 126 da Leite Integral, tivemos a oportunidade de realizar a primeira análise do impacto da taxa de prenhez na lucratividade dos rebanhos. Houve grande repercussão positiva em relação às conclusões apresentadas e, também, uma demanda por análises complementares, considerando outras variáveis. Assim, nesta coluna, avaliamos, com base em dados obtidos na 5ª edição do IILB (IILB 5), a relação da produção média dos rebanhos e do DEL (dias em lactação) à primeira inseminação pós parto com as taxas de serviço, concepção e prenhez.

TAXA DE PRENHEZ NO IILB 5

Como fazemos tradicionalmente na coluna, destacamos o potencial de melhoria, usando como referência os rebanhos mais bem pontuados em relação à nota geral do IILB (Top 10% IILB). O IILB 5 analisou dados relativos a 12 meses (de janeiro a dezembro de 2019), de 939 rebanhos brasileiros. Em relação à taxa de prenhez, quando analisamos os valores obtidos pelos rebanhos Top 10% IILB, percebemos grande oportunidade de melhoria em todos os perfis. Como comentamos na edição 124 da Leite Integral, na qual a Coluna IILB analisou as causas de mortalidade e descarte involuntário das matrizes, a maior causa de baixa são os problemas reprodutivos (23,24%). Assim, trabalhar melhor a reprodução pode diminuir, também, a taxa de descarte geral de matrizes (tabela 1).

Em todos os perfis, a raça com maior prevalência como ‘Sangue Europeu Leite’ foi a holandesa.

Tabela

ANÁLISES DETALHADAS

Para a realização de análises detalhadas, usamos como base 835 rebanhos dos 939 participantes do IILB 5. Optamos por não considerar os dados de 11% dos rebanhos avaliados devido ao fato do volume de tentativas ser inferior a 100, no período de 1 ano. O volume de dados é bastante significativo - as análises contemplam mais de 430 mil inseminações artificiais (IAs). A distribuição das IAs por perfil racial pode ser vista no Gráfico 1.

Grafico

PRODUÇÃO X REPRODUÇÃO

Para correlacionar o desempenho reprodutivo com a produtividade média dos rebanhos, fizemos a divisão em quatro faixas (quartis), respeitando as características de cada perfil racial (tabela 2).

Tabela

Tabela

Rebanhos com maior produção apresentam maiores taxas de serviço, tanto em primíparas quanto em multíparas, em todos os perfis raciais.

No Perfil 1, para as primíparas, na faixa de menor produção, a concepção média é de 36,4% e, na faixa de maior produção é de 38,7%. Nas multíparas, a tendência é a mesma: 32,9% versus 32,6%. A variação é relativamente pequena, especialmente nas multíparas. Podemos considerar que, no Perfil 1, as taxas de concepção não apresentam grandes diferenças entre as faixas de produção. Nos perfis 2 e 3 há uma tendência, não observada no Perfil 1, em relação à taxa de concepção. Rebanhos com maior produção de leite obtém menor taxa de concepção.

Pela análise dos dados, fica claro que o conceito de que “vacas de maior produção tem pior reprodução” não procede. Em todos os perfis raciais, rebanhos com maior produção obtiveram maiores taxas de prenhez, tanto para primíparas quanto para multíparas. Isso é um indicativo de que esses rebanhos estão fazendo melhores manejos reprodutivos e gerais, o que está permitindo ter maior prenhez, ou seja, mais vacas prenhas em um menor espaço de tempo.

Percebemos que os melhores desempenhos reprodutivos, em todos os perfis, sofrem maior influência de melhores taxas de serviço observadas nos rebanhos de maior produção de leite, tanto em primíparas quanto em multíparas. Em todos os perfis raciais, rebanhos com maior produção obtiveram maiores taxas de serviço, o que é indicativo de maior intensidade do uso de ferramentas para aumentar o serviço, tais como a Inseminação Artificial a Tempo Fixo (IATF).

DEL 1ª IA X PRENHEZ

Para correlacionar o desempenho reprodutivo com o DEL médio à primeira IA após o parto, dividimos os rebanhos em quatro faixas (quartis) do maior (pior) para a menor (melhor) intervalo. (Tabela 4).

Tabela

TAXA DE SERVIÇO

Em todos os perfis raciais, sempre que há atraso no momento da primeira inseminação após o parto, há diminuição na taxa de serviço, tanto em primíparas como em multíparas.

Em linhas gerais, em todos os perfis, as taxas de concepção são menores nas faixas mais precoces de DEL à 1ª IA, tanto para primíparas quanto para multíparas. Esta tendência é esperada. No entanto, mesmo que a concepção seja menor em intervalos mais precoces, como estamos inseminando maior proporção de matrizes mais rapidamente, temos mais prenhezes. Neste caso, o foco no todo é o mais importante, ou seja, não adianta ter um serviço baixo e uma concepção alta, quando, na realidade, o que nos interessa é ter vacas prenhas o mais rápido possível.

A análise dos dados mostra que o atraso na primeira IA pós parto diminui a taxa de prenhez, em todos os perfis, tanto para primíparas como para multíparas. Teremos menos vacas gestantes por período, um DEL médio maior no rebanho e uma menor proporção de vacas em lactação no rebanho. Os dados sugerem que devemos inseminar a maior proporção possível de vacas, logo após o período voluntário de espera, intensificando o manejo reprodutivo. Usufruir da principal ferramenta reprodutiva para este fim, que é o protocolo de IATF, já no primeiro serviço, é uma estratégia muito interessante neste cenário.

CONCLUSÕES

Há oportunidade, pelos dados levantados, para que rebanhos do Perfil 1 elaborem estratégias de incremento com foco na taxa de concepção. Há oportunidade para que rebanhos dos perfis 2 e 3 melhorem as taxas de serviço, quando comparamos com a taxa do Perfil 1, independentemente de ordem de parto. Especialmente, para rebanhos do Perfil 3, com maior participação de sangue Zebu Leite, o foco na taxa de serviço merece destaque, visto que esses rebanhos apresentam as maiores taxas de concepção, mas as menores taxas de prenhez, em função das menores taxa de serviço. Para rebanhos com este perfil, em função da menor persistência da lactação, emprenhar vacas mais rapidamente é fundamental.

A DEFINIÇÃO DAS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS NA BUSCA PELO APRIMORAMENTO DAS TAXAS REPRODUTIVAS DEVE SER RESPALDADA POR UMA BOA GESTÃO, PARA QUE HAJA EQUILÍBRIO ENTRE O DESEMPENHO ZOOTÉCNICO E O RESULTADO FINANCEIRO.

JOIO X TRIGO

Quais são os diferenciais dos rebanhos que obtém taxas de prenhez médias de 25% em relação aos rebanhos que obtém taxas de prenhez médias de 14%? Rotinas reprodutivas completas e sistemáticas; uso adequado e intensificado de técnicas de IATF (que devem ser vistas pelos técnicos especializados em nutrição, genética, sanidade, etc., não apenas como ferramenta de reprodução, mas, sim, como um meio para a obtenção de maior produtividade em conjunto com as outras ferramentas disponíveis); manejos sanitários adequados; e conforto para os animais, dentre outros.

Alguns dos muitos benefícios do melhor desempenho na taxa de prenhez são: Menor DEL médio do rebanho; maior proporção de vacas em lactação; maior produtividade média; menor descarte de matrizes; e maior rentabilidade da atividade. Considerando a realidade de cada empresa rural, a definição das estratégias utilizadas na busca pelo aprimoramento das taxas reprodutivas deve ser respaldada por uma boa gestão, para que haja equilíbrio entre o desempenho zootécnico e o resultado financeiro.

 

HELOISE DUARTE Médica Veterinária com Aperfeiçoamento em Nutrição Animal, especialista em Gestão Agroindustrial, MBA em Gestão Estratégica do Agronegócio e CEO da Ideagri

DR. JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS Médico Veterinário, Mestre em Produção Animal pela UFMG, Doutor pela UNESP - Jaboticabal/SP e Professor na UNESP - Botucatu/SP

 

O acesso à plataforma www.iilb.com.br pode ser feito de forma gratuita, por qualquer pessoa interessada nas análises.

Para conferir o boletim completo e fazer seu cadastro, clique aqui, acesse o site www.iilb.com.br e bom proveito!