O catarinense Raul Anselmo Randon ainda lembra das mãos sujas de graxa de quando limpava motores. Com apenas o ensino primário, o filho de imigrantes italianos percebeu, na década de 30, que o Brasil teria que aumentar a frota de veículos para o transporte de carga pesada. A ideia transform ou um simples galpão numa oficina mecânica de carrocerias e autopeças, no município de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Nos anos 70, Raul Randon fechou contrato de transferência de tecnologia com uma empresa sueca. Em pouco tempo, ele triplicou o patrimônio. Como um excelente empresário, soube aproveitar as oportunidades investindo na produção de maçãs. Hoje, é respeitado em diversos setores ligados ao agronegócio brasileiro. E episódio O Criador de Impérios tem narração do empresário Alexandre Randon, a participação especial do presidente da Vinícola Miolo, Darcy Miolo, e do presidente da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto.


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A Rasip é parceira e usuária do IDEAGRI.

Com 80 anos de idade e 60 na liderança de um Império no segmento de implementos rodoviários, auto-peças e serviços, Raul Randon é um homem simples e cheio de energia. Com 14 anos começou a trabalhar com o pai, na produção de ferramentas agrícolas. Hoje, possui nove empresas entre elas a conhecida fabricante de carrocerias Randon que rodam o Brasil de Norte a Sul.
Mas há quem diga que existe um lugar longe da indústria, dos caminhões e do metal que faz Raul Randon se sentir em casa: os campos de cima da Serra de Vacaria, no Rio Grande do Sul, onde ele cultiva maças, uvas para a fabricação do seu premiado vinho Rar e o conhecido queijo italiano tipo Grana.
No episódio “O Criador de Impérios” a trajetória de um dos grandes empresários brasileiros que encontrou, nas dificuldades, a fórmula para o sucesso.
Alexandre Randon: Com a crise do petróleo, o volume de negócios caiu para a metade e levou a empresa a pedir concordata. Na época a Randon também tinha muitos investimentos e, como o clima mudou, ela foi obrigada a pedir concordata e houve uma terceirização grande das atividades comerciais. Na época da concordata, eu o via muito deprimido e acompanhávamos as angústias.
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Raul Randon: O meu avô era um estudante. Ele tinha estudado em um colégio de Padres na Itália. Ele era muito bem quisto, ele era uma pessoa muito conselheira, na igreja também, ele fazia serviços de Padres. Dizem que quando se casavam, começaram a brigar, não de davam bem, iam lá falar com ele.
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Alexandre Randon: Meu pai naquela época, ele é nascido em 29, havia saído do quartel fazia pouco tempo. Ele se juntou ao irmão, Hercílio Randon, já falecido e eles constituíram uma mecânica, na década de 50, no comecinho da década de 50. Eles partiram com a entrada de um italiano que tinha a tecnologia da parte de freios. Eles iniciaram a fabricação de freios a ar para caminhões e semi-reboques.
Raul Randon: Um colega, Tito Rossi, deu uma idéia, para o meu irmão e para mim, de fazer umas máquinas, impressora de talões, de notas, estas coisas. Acabamos aceitando e fizemos umas sociedades, os três. Isso foi em 50. Em 51, dia 26 de maio de 51, no dia de Nossa Senhora de Caravagio, nossa oficina incendiou. Queimou tudo. Eu disse: “Será que foi um castigo de Nossa Senhora ou foi uma benção ter queimado aquilo lá?”, por que, dali, nós evoluímos mais.
Alexandre Randon: Naquela época, os freios eram preferencialmente hidráulicos e existia, em função no ciclo da madeira, dos inúmeros transportes que eram feitos aqui na Serra, daqui para as outras regiões do País, deste monte de Serras aqui: Vacaria, Lages. E, logicamente que veículos comerciais apresentavam uma deficiência de freios. Então, eles entraram com esta tecnologia de freios a ar que foi um sucesso e assim, praticamente, deu mais vulto ás atividades deles como empresários. Começou mais ou menos nesta direção, fabricação de freios, posteriormente, na década de 50 a fabricação de terceiros eixos para caminhões. Mais no final da década de 50, começaram a fabricação de reboques e posteriormente semi-reboques.
Raul Randon: As estradas brasileiras sempre foram financiadas pelo Banco Mundial. Quando veio a Revolução, os militaram ficaram no poder e o Banco Mundial chegou e disse para o Brasil: “Ou vocês cuidam do controle de peso dos caminhões ou nós não financiamos mais as estradas”. Por que não adianta fazer asfalta, depois bota peso à vontade e estraga. Foi assim que em 67 saiu a “lei da balança”. Um caminhão novo, que era pesado no 3º eixo, carregava menos peso que um F600, que era um caminhão velho. Aí ,meu irmão idealizou e fez a carreta de 3 eixos. Em 70 eu fui para a Itália, fui a uma Feira. Quando eu voltei da Itália, falei com meu irmão, ele tinha feito 700 em um ano. Eu disse a ele, vamos: “Fazer uma fábrica para fazer 1.000 unidades por mês”. De 700 por ano, para 1.00 em um mês. E fizemos o projeto, fizemos o financiamento com o BNDES e construímos a fábrica, já com 40.000 metros quadrados.
Alexandre Randon: Após o famoso milagre brasileiro, a década de 70, para a Randon foi um período de grande expansão, crescimentoS no nível do que é a China hoje para nós. A Randon vinha crescendo também à taxas de 6%, 10%, 15% ao ano ou mais. Passado, encerrado este período de juros baixos e mercado aquecido de crescimento, quando chegou aos anos 80, de 80 para 81, o volume de negócios caiu assim para a metade, e persistiu nestes níveis por 2 ou 3 anos, o que levou a empresa, lá em 82 a pedir concordata.
Raul Randon: Nos reunimos com os diretores para ver o que iríamos fazer, para pedir até falência, alguma coisa. Então, um diretor financeiro disse que aconselhava o seguinte: “Ou tu fazes concordata ou eles pedem falência da empresa”. Pedem falência, por que, se nós devíamos 5 milhões, naquela época, e o patrimônio era de 12, ao pedir falência tem de onde buscar. Agora se deve 12 e tem 5 não pede falência...
Alexandre Randon: Então, foi realmente uma mudança muito grande, foi, apesar de toda a resistência que meu pai tinha, por ter visto sempre a empresa crescer, crescer e de repente ter que pedir concordata. Mas, olhando hoje, a gente entende que naquele momento foi uma decisão bastante sensata. Nós já éramos o 5 filhos, os 5 irmãos, já todos nós éramos vivos. Isso, nós estamos falando de 26 anos atrás. Meu irmão mais novo tem 32, então todos nós já estávamos presentes de alguma forma e acompanhávamos as angústias e as alegrias dele como pai, não como chefe ou colega de trabalho, nós todos estávamos estudando, mas como pai.
Raul Randon: Uma coisa eu fiz sempre na vida, pagamento de funcionários eu sempre paguei em dia e os impostos também eu sempre paguei e dia. Eu nunca atrasei impostos. Eu sempre via o seguinte, a empresa que atrasa os impostos, o que acontece, o Governo não cobra logo, mas quando ele vê, ele perde a fábrica. Nós ganhamos uma concorrência para exportação na Argélia e o diretor de venda naquela época foi para lá e eu disse: “Compra passagem de ida, não de volta, por que se não fizer negócio fica por lá mesmo”. Ele foi lá e ficou 59 dias lá na Argélia, conseguiu assinar o contrato de 12 milhões de dólares.
Alexandre Randon: No final da década de 90 também tivemos uma crise, o dólar saiu de 1 para quase 2 em 1 mês e as indústrias que estavam financiando suas operações em dólar, a Randon era um exemplo, praticamente dobraram sua dívida, com um mercado bastante fraco. As crises fazem a gente sentar, botar os pés no chão, digamos assim, consolidar aquilo que está sendo criado, e fortalecer convicções, ou seja, valores da própria empresa.
Alexandre Randon: A empresa nestes últimos 6 anos, investiu, na média, acima de 100 milhões de reais por ano, baixando o grau de endividamento. Nosso endividamento, que lá no início dessa década girava em 2 a e anos de EBITDA, hoje ele não passa de 6 meses de EBITDA (que é a nossa geração de caixa).
Alexandre Randon: De 2002 para 2008 nós tivemos 6 anos de crescimento. Eu não sei na década de 70 nós podemos igualar o crescimento ou não, mas a empresas vão crescendo receita uma média de pouco mais de 23% ao ano, média. Isso, em 6 anos, praticamente triplica a nossa atividade, como receita e como resultado final. Com ganho de escala, nós mais do que triplicamos, ou seja, o crescimento do lucro da empresa nesses anos foi mais do que 30% como média, em função do crescimento e do ganho em escala, ou seja, nossas despesas cresceram menos em percentual do que nossas receitas. As margens foram mantidas, em algum momento até melhoradas e consequentemente o resultado apareceu. A empresa conseguiu, nesses últimos 6 anos, investir aí na média acima de 100 milhões de reais por ano, baixando o grau de endividamento.
Alexandre Randon: Os países europeus e os Estados Unidos, em especial, já havia vivenciando uma crise antes. Os próprios americanos provocaram o start deste problema, vamos dizer assim, eles já estavam vivenciando e isso só veio a agravar. E na Europa também já existia uma crise instalada, ela só se agravou e se aprofundou . E as nossas oportunidades no Brasil estão ainda bem, pois nós temos ainda muita coisa de base para investir, coisas que nós ainda não desenvolvemos.
Carlos Sperotto (Presidente da Farsul): A gente sabe das vitórias e sabe dos momentos difíceis em que ele venceu as situações. Hoje nós estamos vivendo um momento de crise e ele passou por tudo isso. Um homem que encarou, enfrentou posições, ampliou, teve a condição alterar a forma de dirigir as suas empresas e independente de uma posição, de um cunho bastante familiar.
Raul Randon: O mercado de hoje preocupa, não tem dúvida nenhuma, duvido que alguma pessoa não esteja preocupada. Mas nós vamos enfrentar isso aí, com calma, não se desesperando, fazendo as coisas bem feitas.
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Alexandre Randon: O meu pai, quando ainda estudante, antes de começar suas atividades profissionais, ele ajudava a cuidar da horta da mãe dele. A mãe dele sempre teve uma horta ao lado da sua casa. Eu lembro que ele comentava comigo quando eu era criança “Antes de estudar, antes de ir para a aula, eu trabalhava, pegava na enxada com a minha mãe, trabalhava, ajudava a cuidar da horta”. Então, talvez isso tenha, como é um processo de educação dele também, dentro da educação dele também, gerou essa oportunidade de apego à terra, ao que a terra produz, enfim, aquilo que nos sustenta.
Alexandre Randon: No final da década de 70, mais precisamente em 79 nós começamos, ainda dentro das empresas Randon, hoje depois do spin off já não faz mais parte das empresas Randon. Nós começamos um projeto de cultivo de maça, que foi feito em cima, motivado, pelos incentivos fiscais da época. Existia um incentivo do Governo para que a gente utilizasse uma parcela do imposto de renda para reflorestamento e a maça na época também foi enquadrada. Meus pais, com seus colegas da diretoria da Randon na época, em 79, constituíram a Rasip, empresa dedicada até hoje ao cultivo de maças. Hoje a Rasip ainda representa em torno de 5% da produção nacional de maças. Em alguns anos é 6%, em outros é 5%, então, ela tem se posicionado em torno disso. A partir dali, de um projeto em cima de incentivos, os incentivos deixaram de existir, mas a paixão pelo agro business não, e o meu pai como bom empreendedor logicamente foi buscando e vislumbrando novas oportunidades também no ramo do agro business.
Alexandre Randon: A Rasip passou a investir em outras atividades que não só maça. Teve, no caso, o cultivo de mudas, não só para maçã, mas para outras frutas também, por que ali tem também a tecnologia. Nós hoje estamos trabalhando as mudas de frutas que nós vamos usar mais adiante.
Raul Randon: Um amigo italiano disse: “Por que você não faz uma fábrica de queijo aqui? Um grana padrão. Quando você for à Itália eu vou tem mostrar uma fábrica de queijos”. Então foi assim, fazíamos, naquela época, 130 formas por dia.
Alexandre Randon: Temos o queijo Gran Formaggio, que é conhecido hoje nacionalmente, ele está presente onde a Randon está presente. O queijo está lá seja para agradar um cliente, seja por que as pessoas solicitam para fazer um coquetel, está o queijo presente. Hoje estamos produzindo mais de 1 tonelada de queijo por dia. Praticamente ele foi pioneiro também na introdução deste tipo de queijo, tipo grana, no Brasil. Até então, ele era só importando, hoje ele é produzido. E outras atividades derivadas da fabricação do queijo, leite, nata.
Darcy Miolo: Em 1993, 1994 por ali, que a gente começou, a gente começou a entrar com os vinhos, íamos fazer degustações lá na Randon que era empresa que tinha um pessoal muito importante. Sempre me lembro que tinha governador, até o presidente da República veio. E a gente começou aquela amizade com o Sr. Raul. E aí, no decorrer do tempo, a gente começou a sair com ele e fazer degustações fora do estado. A gente ia para Curitiba, São Paulo, e uma vez o Sr. Raul me convidou para ir fazer a Tranpor em São Paulo. A gente fez uma casa típica aqui do Sul, até, inclusive a gente levou uma carreta de pedra, para fazer uma taipa. E começou aquela coisa pelo vinho, aí Seu Raul sempre gostava do vinho, como gosta ainda, e aí agente começou dizendo “Bom, será que eu poderia fazer daqui a alguns anos para as bodas de ouro?”. A idéia foi amadurencendo e, em uma época, ele disse “Olha, acho que dá para fazer”. Aí ele me ligou, e eu convidei o Adriano, meu filho, que é enólogo e fomos conhecer as parreiras que ele tinha plantado, as uvas e a gente começou a fazer o vinho dele. E foi feito o vinho Rar, para as bodas de ouro dele. O Raul é uma pessoa que gosta muito de desafios, ele gosta de fazer.
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Raul Randon: Eu digo para os meus filhos que se querem me tirar daqui, então, eu já vou morrer logo, não adianta, eu tenho que ficar aqui. Quando eu era jovem eu dizia – Vou morrer quando? Acho que é com 70 anos, quando chegar no ano 2000 – Chega, tá bom. Então, cheguei no ano de 2000 com saúde ainda, Bom de 2000 a 2008 eu gastei ¼ da minha saúde. Eu to calculando o fim, então eu tenho mais 3/4 de saúde, são mais 24 anos, então eu vou ter mais 24 anos pela frente.

A Rasip utiliza como guia para seus negócios o investimento constante em atualização, tanto tecnológica quanto humana. Atuando de acordo com um planejamento estratégico que oportuniza um espírito corporativo bastante sólido e unido, as ações realizadas na Rasip difundem um ambiente propício ao bom desempenho e integração das pessoas. A Rasip é parceira e usuária do IDEAGRI.

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