A Fazenda Flor da Serra tem um sistema de gestão único, 100% embasado em meritocracia, que pode servir de inspiração para muitos empresários do setor. A fazenda entra com todo o ativo (terra) e toda a infraestrutura (ordenha, pivô e animais). Os parceiros são responsáveis por toda a gestão da operação de leite, ou seja, insumos (alimentação, medicamentos, energia, sêmen, etc), bem como o custo de mão de obra. Confira, na matéria da Revista Leite Integral, o sistema de produção de leite a pasto da Flor da Serra, localizada no estado Ceará, cliente e parceira do IDEAGRI.

 


Um pouco da história...

A história da Fazenda Flor da Serra, nos foi contada pelo seu fundador, Sr Luiz Girão. Chamado por muitos funcionários e familiares de “Luizinho”, esse cearense do sertão impressiona pela simplicidade, praticidade, inteligência e conquistas.

Luiz Girão é um empresário de negócios diversificados, que tinha o sonho de ter uma propriedade, onde pudesse produzir sem excesso de riscos, que no caso do sertão, significa disponibilidade de água. Viu seu sonho se concretizar em 1996, quando conheceu o projeto de irrigação Jaguaribe- Apodi. “Quando eu cheguei lá, extasiei! Era uma propriedade extraordinária com 37 pivôs centrais, todos parados e sucateados. Eu sempre tive muitas fazendas no Ceará, porém de sequeiro (terrenos onde a pluviosidade é diminuta), e nos anos secos, como 91, 92 e 93, foi necessário abandonar tudo”, explica. Abandonar tudo, literalmente, pois um dos negócios da família era uma fábrica de leite em pó, que foi vendida para a Parmalat, em 1995.

O patrimônio foi recomprado pela família em 2002 e, hoje, o Laticínios Betânia, com 46 anos de existência, possui cinco unidades industriais localizadas no Ceará, Pernambuco, Paraíba e Sergipe, 8 Centros de Distribuição, 1.800 colaboradores e 3.500 produtores de leite espalhados por todo o Nordeste. Sua linha de produtos, inclui: leites pasteurizados e longa vida, bebidas lácteas, iogurtes, queijos, requeijões, doce de leite, leite em pó, creme de leite e leite condensado. Enfim, trata-se “simplesmente” de um dos maiores laticínios do país.

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao lado: Luiz Girão, proprietário da Fazenda Flor da Serra.

 

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Inicialmente, a Fazenda Flor da Serra, situada na Chapada do Apodi, no município de Limoeiro do Norte/ CE, sertão central cearense, foi usada para produção de milho verde e confinamento de bois. O restolho do milho verde era cortado, ensilado, complementado e usado para o gado corte. A Fazenda chegou a ter 7mil bois no confinamento, porém, o resultado econômico ficava muito aquém do esperado.

Isso, acabou sendo o que o direcionou para a produção de leite. Visionário, Girão já buscava parceiros, pois tinha a real dimensão das demandas da pecuária leiteira, que iniciou com 2mil litros de leite/dia.

O Sr. Luiz Girão se emociona ao explicar seu maior desafio, que é convencer produtores de que vale a pena produzir leite. “O nordeste sempre foi extrativista. Até pouco tempo, ninguém aqui usava adubo. Você faz, seu vizinho pergunta o que fez, e essa “inveja boa” tem transformado o estado. Além disso, 90% das propriedades do Nordeste não têm gestão de nada. E como você pode avançar se não sabe o resultado?”, questiona.

O sistema de gestão único, detalhado na reportagem completa da revista Leite Integral, foi idealizado e formatado por Girão, que explica que esse é o grande negócio da Fazenda Flor da Serra. “Nós contratamos um cara que só é remunerado pelo mérito, só recebe se o negócio for rentável. A remuneração dele é 20% do resultado que ele trouxer para o negócio. Se ele não me trouxer lucro, ele mesmo pedirá para sair, porque ele não vai viver sem ganhar. É um sucesso fenomenal! Administração é só lógica”, resume.

Há um ano, Luiz Girão passou a administração da fazenda para seu filho David Girão, que cursou administração de empresas em Boston /EUA, e foi quem conduziu a visita com a equipe da Revista Leite Integral. 

A Fazenda Flor da Serra utiliza o Sistema de Gestão IDEAGRI. Confira o depoimento de Daniel Girão sobre o programa:

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Gestão única...

A Fazenda Flor da Serra tem um sistema de gestão único, 100% embasado em meritocracia, que pode servir de inspiração para muitos empresários do setor.

O bezerreiro e a recria são de responsabilidade da administração da fazenda. Já a produção de leite é feita com parceiros, em 4 Unidades Produtoras de Leite (UPLs), onde ficam as vacas em lactação. Há separação total da gestão e autonomia de decisões operacionais em cada UPL.

A Flor da Serra entra com todo o ativo (terra), toda a infraestrutura (ordenha, pivô e animais) e insumos (alimentação, medicamentos, sêmen, etc). O parceiro escolhido deve abrir uma empresa (CNPJ), que responsabiliza-se pela gestão, sendo o responsável por contratar e arcar com as despesas de mão de obra (ordenhador, vaqueiro, inseminador, etc). A remuneração do parceiro é 20% do resultado da operação. Todos os setores funcionam assim, então os departamentos da fazenda (fábrica de ração, bezerreiro, recria e UPL) acabam por ser clientes internos uns dos outros.

Segundo David, seu gerenciamento se baseia em um tripé: amento se baseia em um tripé:

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“Com este tripé, eu sei, por UPL, o que vou produzir, quanto eu vou gastar e quanto vai custar meu litro de leite no mês que vem. Além disso, se a fazenda percebe que haverá prejuízo em algum mês, toma atitudes antes que a perda aconteça. Os parceiros participam de tudo. Não tem nada que me preocupe, que não os preocupe também. Graças à meritrocacia, eu tenho vários donos nessa fazenda”, explica David. 

Victor Raphael é o Gestor Financeiro, responsável pelo controle do fluxo de caixa, DRE (Demonstração do Resultado do Exercício) e orçamento. Utilizam um programa de gestão que auxilia em todo o processo de controle. A Fazenda faz DRE separada de bezerreiro, recria 1, 2 e 3, e de cada uma das UPLs.

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A taxa de lotação é de 10 vacas por hectare, mas quando o capim está muito bom, aumenta-se a carga animal. A média de produção no ano, das 4 UPLs, é de 28.344 litros de leite/dia, com 1.785 vacas em lactação, que dá uma média de 16,88 litros/vaca em lactação/dia. As UPLs têm o mesmo sistema de produção, mas algumas diferenças de estrutura. David busca padronizá-las quanto à genética do rebanho, tipo de ordenha, dentre outros aspectos, com o objetivo de melhorar a mensuração e comparação. 

Alex, das UPLs Campo Grande e Ouro verde, que já foi gerente da fazenda, é formado e pós-graduado em zootecnia, e trabalha com o esquema de parceria há 9 anos. “Nunca deixamos de ganhar dinheiro. Mas vai acontecer, se ficar no zero a zero. Se o sistema ficar devedor, a gente fica devendo. Se der prejuízo, eu não vou desembolsar, mas vou ficar devendo à fazenda; na próxima que der saldo eu vou ter que pagar. Mas, até hoje, nunca ficamos devendo. Ninguém nunca quis voltar para o modelo anterior. Este sistema só estimula, desafia! Eu não me vejo mais trabalhando, ganhando salário fixo”, resume Alex. 

Todos os parceiros têm em comum o “olhar de dono” e total autonomia. Podem demitir, contratar, vender vacas, definir protocolos, e tudo o mais que julgarem necessário. O que importará será o resultado mensal. Decisões tomadas fora do padrão são discutidas nas reuniões mensais, onde David, impreterivelmente, participa. Alguns custos são compartilhados como, por exemplo, a assistência veterinária, composta de 1 veterinário e 3 técnicos agrícolas, todos residentes na fazenda. 

Alex explica que muita gente fala para o Sr Luiz que “os meninos (referindo-se aos gestores das UPL) estão ganhando muito”, e ele responde: “Imagine eu, que estou ganhando 80%.” Luiz Girão quer mais do que produzir leite, quer produzir empresários. Ele acredita que é melhor dividir, para depois somar.

O Pasto...

“Em sistemas a pasto, olhamos primeiro o capim, depois olhamos a vaca”, resume David. Ele explica que as variáveis da produção a pasto fazem com que somente pessoas apaixonadas pelo negócio toquem o dia a dia.

A Fazenda Flor da Serra trabalha com pasto irrigado por pivô central. Dos 11 pivôs, 9 são usados para pasto e 2 para produção de volumoso. O projeto Jaguaribe-Apodi, é abastecido pelo Castanhão, o maior açude do Nordeste, com capacidade de 6,7 bilhões de metros cúbicos.

O entusiasmo e orgulho de David para nos explicar sobre o início da atividade é contagiante. “Essa fazenda existe devido à visão empreendedora do meu pai. Ele foi o pioneiro, no Brasil, em produção de leite a pasto no semi-árido nordestino. Ele foi o primeiro, no Ceará, a irrigar capim e colocar gado em cima”, conta orgulhoso.

Jardel, com 34 anos, que foi estagiário da fazenda e trabalha como parceiro há 10 anos, foi quem explicou sobre a adubação.

A adubação fosfatada, feita uma a duas vezes por ano com trator, é totalmente definida por meio da análise de solo. “Hoje, nós temos um solo que é bastante rico em nutrientes, com alto teor de potássio, e é considerado um dos melhores do mundo. Ao longo de 10 anos, nosso solo mudou a classificação devido ao aumento da matéria orgânica, fruto da decomposição da raiz do capim e do esterco dos animais. Era um Cambissolos e virou Chernossolos, uma mudança que, naturalmente, demoraria centenas de anos”, orgulha-se Jardel.

A adubação nitrogenada, via fertirrigação (adubar e irrigar ao mesmo tempo), é feita todas as vezes que a vaca sai do piquete. A quantidade de Nitrogênio (N) usada é definida no “olho”, fruto da experiência de manejo dos pastos. A média é de 1200-1300 kg de N por hectare/ano. As variáveis a serem consideradas são: quantidade de luz solar, altura do capim, taxa de lotação no piquete, taxa de lotação no restante do pivô e necessidade de ensilar capim. “Uma semana de tempo nublado é suficiente para atrasar 30% o crescimento do capim, e se usar a mesma quantidade de adubo, jogará produto fora”, explica Jardel.

Em um único dia com alta luminosidade e com manejo correto de água e adubação, o capim chega a crescer 7 cm!

As vacas não são molhadas enquanto há irrigação, pois, os pivôs precisam atender a demanda de água do capim. A taxa de evapotranspiração na região é alta, e a lâmina d´água que os pivôs conseguem colocar é baixa, pois os equipamentos são antigos. Em dezembro, por exemplo, irrigaram 16 horas por dia, parando apenas no pico de energia, de 17-21h, por causa do custo.

A vazão dos pivôs é de 220.000 litros por hora, e o gestor deve ligar, desligar e definir a velocidade que o mesmo irá rodar. A velocidade de rodar o pivô e retornar para o piquete depende do ciclo do capim, da época do ano, da disponibilidade de pasto, de sol e de água. As vacas levam, em média, 19 dias para voltarem para um mesmo piquete.

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Bezerras...

Como dito anteriormente, as bezerras são criadas pela fazenda, também em sistema de parceria. Nesse caso, o responsável é o Reginaldo Alves da Costa, conhecido como Naldim, que trabalha com o Sr. Luiz Girão há 20 anos.

No bezerreiro, que tem capacidade para 270 bezerras, em sistema Argentino, toda a mão de obra é fornecida pelo parceiro, e as demais despesas, como estrutura, animais, alimentos e medicamentos são de responsabilidade da fazenda.

O esquema de alimentação é o seguinte:

As bezerras mamam o colostro em suas próprias mães e são levadas para o bezerreiro com 1 dia de vida.

O esquema de alimentação é o seguinte:

• De 1 a 55 dias de idade: 6 litros de leite em dois fornecimentos diários de 3 litros cada;
• De 55 a 60 dias: 3 litros de leite de manhã;
• De 60 a 75 dias: permanecem na casinha, mas alimentam-se, exclusivamente, de ração. Aos 75 dias, o consumo médio de ração é de 2 kg/dia.

O leite de descarte é pasteurizado antes de ser fornecido às bezerras. Desde o primeiro dia, ração e água são fornecidas à vontade.

Os bezerros machos são vendidos por R$ 85,00 cada. Normalmente, vendem-se todos, mas se não houver comprador, são doados, pois o custo de 1 dia no bezerreiro é R$ 12,00.

Recria...

Dois pivôs de 50 hectares cada são usados para a recria das bezerras. Maria Bezerra Nobre é a responsável pela recria, também trabalhando por meritrocracia. Ela nasceu na fazenda, e seu pai era vaqueiro do Sr. Luiz Girão em outra propriedade.

As bezerras são transferidas do bezerreiro para a recria, em grupos, a cada 15 dias, com, aproximadamente, 75 dias de idade.

O maior desafio da fazenda, hoje, é reduzir a idade ao primeiro parto, que é de 32 meses. A meta é chegar a 28 meses. 

As novilhas são mantidas a pasto, em lotes de 80 animais, e suplementadas com 2 kg de concentrado à base de milho, soja e minerais.

Nutrição...

O ingrediente mais importante da dieta da fazenda é o capim, que é analisado mensalmente. A proteína do pasto chega a 20%.

As vacas em lactação recebem 1 kg de concentrado para cada 2,5 litros de leite produzidos, divididos em 2 fornecimentos por dia. Colares de diferentes cores separam os 6 lotes: primíparas, pós-parto, alta produção, produção intermediária, pré-secagem e secagem. 

O concentrado é composto, exclusivamente, de milho moído e núcleo mineral. Em poucos meses no ano, quando a qualidade do pasto cai, acrescenta-se um pouco de soja. Uma única empresa de nutrição é responsável pela consultoria técnica e auxílio na tomada de decisões há muitos anos.

Este ano, a fazenda está produzindo silagem de sorgo, ao custo de R$ 0,08/kg, para usar caso seja necessária suplementação de volumoso. Em 2016, foi necessário comprar silagem, pagando R$ 0,20/kg.

A fábrica de ração da fazenda produz, em média, 14.000 kg/dia, sendo operada por 8 funcionários. As UPLs pagam R$0,05/kg de ração entregue, para custearem o funcionamento da fábrica.

Genética...

A genética do rebanho é heterogênea, sendo a maior parte das vacas Jersolando. Com o objetivo de padroniza-lo, atualmente, 100% do sêmen usado é de touros Girolando 5/8 ou ¾. A escolha do Girolando ocorreu em função da boa adaptação ao clima, ao teor de sólidos do leite e ao valor de mercado dos animais.

Sucessão...

A Flor da Serra é um caso de sucessão extremamente bem-sucedido. O Sr Luiz Girão participa do Conselho de Administração de toda a holding. Um de seus filhos, Bruno Girão é o presidente do Laticínios Betânia e o outro, David Girão, é o responsável pela Fazenda Flor da Serra.

Futuro...

O único gargalo para o crescimento da Fazenda Flor da Serra é a disponibilidade de água. A meta é chegar em 100.000 litros por dia, em até 3 anos. Alguém duvida?

Leia a reportagem na íntegra, na versão digital da revista, disponível para assinantes.

Fonte: Revista Leite Integral, julho 2017.


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