Ao longo de 35 anos atuando na gestão de pessoas, o Prof. Eduardo Pedreira aprendeu lições valiosas no seu dia a dia e, neste ponto de vista, o profissional compartilha suas experiências em forma de lições, pílulas de conhecimento. Leitura imperdível!

Eduardo Pedreira, professor de Sustentabilidade Corporativa da Fundação Getulio Vargas

As pessoas mais estratégicas de um grupo não são necessariamente as que ocupam posições e cargos formais, mas as capazes de influenciar outros. A tarefa número 1 de quem gere um grupo de pessoas é influenciar e se deixar influenciar pelos influenciadores positivos, tentar diminuir o impacto dos negativos, isso sem jamais se tornar aquilo que se deseja neutralizar.

A pluralidade pode ser um inferno, senão estiver debaixo de forte alinhamento de interesses. As diferenças de personalidade, habilidades, talentos, opiniões precisam acontecer dentro de uma harmonia de propósito. A variedade do grupo é um forte aliado; caso contrário, transforma-se em um bando com tendência a se autodestruir justamente pelas forças trabalhando desunidas, órfãs de um ideal comum.

A maioria das pessoas detesta mudanças pela sua mais óbvia razão: mudar é abandonar a zona de conforto. Entretanto, quando se percebe que você é a mudança que propõe, essa resistência natural diminui significativamente e abrem-se as portas pra se respirarem novos ares (atenção: coerência de ser aquilo que se propõe não é garantia de que todo mundo vai aderir à mudança. Em um grupo, sempre existirão pessoas cujo medo de mudar é maior do que qualquer coisa, mesmo e inclusive uma liderança inspiradora).

Gerir pessoas é oscilar (às vezes, quase diariamente) entre realização e frustação. Formar, influenciar pessoas, vê-las crescendo e sendo impactadas, é uma das mais fascinantes experiências da vida. Altamente realizadora e ao mesmo tempo frustrante. É duro lidar com a baixa resposta, a indiferença e mesmo a resistência à sua gestão, especialmente quando se tem certeza de que há um caminho melhor a ser percorrido. A depender do dia, a resposta que daria àquela pergunta quem você levaria para uma ilha deserta: ninguém, só eu e eu mesmo. Quando mais cedo abraçarmos essa oscilação, mais fácil será lidar com ela.

Em todo grupo sempre haverá as pessoas estimulantes por causa dos seus talentos diferenciados, as inspiradoras por sua sabedoria e maneira de agir, as medianas, aquelas que não despertam algo maior ou menor e as insuportáveis, são as detestáveis, negativas, maldosas. Para com as estimulantes e inspiradoras devemos ser como esponjas, absorvendo tudo quanto têm a nos dar, nunca se sentindo ameaçado por elas, tê-las sempre como parceiras bem próximas. Acredite-me, elas vão nos levar para além do que somos. Para com as medianas, um profundo respeito, são quase sempre a maioria e, embora não se destaquem, constituem a base sólida de qualquer projeto, pois nem só de craques vive um time vencedor. O gol é feito justamente com a ajuda de quem não se destaca muito. Para com as detestáveis, equidistância. Nem tão longe a ponto de elas crescerem o suficiente para espalhar seu veneno maldoso, nem tão perto para não ser tragado por seu universo negativo.

A pessoa mais importante a ser gerida na gestão de pessoas sou eu mesmo. Depois de tanto tempo, à medida que vou envelhecendo, tenho aprendido a desconfiar de mim mesmo, a não achar que tenho a única visão, a compreender que, sem parceria, rede, relacionamento, networking, dê-se o nome que se quiser dar, nada saudável e duradouro se constrói. Tenho paixões, hábitos, vícios tangíveis e intangíveis que podem me atrapalhar. Gerir-me é o meu maior case de sucesso. Por ele é que arrisco estar na posição de gerir outros. Quando as pessoas percebem a boa gestão de mim mesmo, tendem a se deixar gerir não pela força, mas pela inspiração.

Pessoas são meu maior legado. Gerir pessoas é um privilégio enorme associado a uma responsabilidade gigante. Existem fortes desafios nessa posição, mas ela é tão nobre que desejo permanecer dedicando cada minuto da minha vida produtiva a continuar fazendo isso. Pois que outra marca tão duradoura na história posso deixar senão aquela que se revela nas pessoas que inspiro, formo, impacto e que por sua maravilhosa generosidade se deixam gerir por mim?

Fonte: Revista Brasileira de Administração, Edição Jul/Ago de 2016