Alta tecnologia, genética de ponta, atenção ao meio ambiente e bem-estar do gado permitem à Agrindus faturar anualmente 65 milhões. Pioneira em provas genômicas e marcadores moleculares, a Agrindus é uma fazenda com mais de 70 anos de atividade leiteira. No próximo dia 14 de abril, na 9ª edição do leilão da Agrindus, o comprador terá a segurança de adquirir gado de altíssima qualidade. Confira informações sobre o leilão e trechos da reportagem de capa, da Revista Globo Rural, que conta como uma das maiores empresas produtoras de leite do Brasil consegue coletar 60 mil litros ao dia. A Agrindus S/A é comandada por Roberto Jank. Quem conta essa história é o editor Sebastião Nascimento, que foi até Descalvado, interior de São Paulo, conhecer de perto o sistema de criação do grupo, pioneiro em inseminação artificial do Brasil. 

 

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Ele carrega leite no DNA. Aos 53 anos, 35 deles dedicados à pecuária, Roberto Jank Júnior comanda as operações da Agrindus S/A, uma das três maiores empresas produtoras de leite do Brasil, sediada em Descalvado, no interior paulista. São 1.700 vacas em lactação, que produzem 60.000 litros de leite ao dia – ou 1,8 milhão ao mês, ou 21,9 milhões de litros por ano.

O criador Roberto Jank Júnior na Fazenda Agrindus, em Descalvado (SP)

 

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A empresa é verticalizada e calcula a produção de leite por hectare, um diferencial em relação a outras indústrias do leite no Brasil. “É o compromisso de aumentar de forma sustentável o volume produzido anualmente”, afirma Roberto Júnior, que trabalha ao lado do pai, Roberto Jank, de 79 anos, e do irmão Jorge, de 49.

Roberto Jank, 79, que introduziu a inseminação artificial na fazenda, na década de 1960

 

Em 2005. A produção das vacas era de 13,7 milhões de litros por ano; em 2011, saltou para 16 milhões de litros; neste ano serão 21,9 milhões de litros; e a expectativa é de mais 2 milhões sejam acrescentados até 2020, com o total de 2.100 fêmeas lactantes. Para atingir essa meta, os investimentos visam, principalmente, à elevação da produtividade das vacas via genética de primeira linha e ganho em eficiência.    

O crescimento acelerado da produção aminha paralelamente ao respeito ao meio ambiente e ao bem-estar do gado, explica Roberto Júnior. “A Agrindus dedica muita atenção ao uso racional dos recursos naturais, o que pode ser visto nas práticas de reuso da água, manejo de dejetos e reciclagem de nutrientes”, diz. A fazenda não usa fertilizantes químico no capim e outro ponto de destaque é o conforto dos animais nas diversas fases de criação. “Bem-estar animal é o principal investimento que o produtor deve fazer”, ensina o fazendeiro.                            

O grupo cresce mesmo com o cenário desfavorável ao leite. Em 2017, o preço pelo litro retrocedeu 18%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Nos últimos anos, muitas fazendas se desfizeram dos rebanhos por causa dos altos e baixos da pecuária leiteira. Já a Agrindus resistiu às instabilidades e não tirou o pé do acelerador, afirma Roberto Júnior.

O pecuarista dia que a produção na fazenda cresce alavancada pela melhora no consumo per capita de leite e de seus derivados no país. O consumo interno no Brasil, que estava em 100 litros de leite/ano per capita há dez anos, evoluiu para os atuais 170 litros. Recentemente, porém, a crise econômica provocou uma estagnação no consumo, mas a perspectiva para este ano é de crescimento.

O movimento na Agrindus é semelhante ao de uma cidade, e Roberto Júnior é o “prefeito”. Em uma motocicleta, ele diariamente costuma percorrer os 2.000 hectares da fazenda, que tem 240 funcionários registrados, muitos dos quais moram com suas famílias nas 65 casas da propriedade. No total, são mais de 350 pessoas. Roberto confere tudo, da comida nos cochos das vacas ao bezerrinho que acaba de nascer. Não pode parar, afinal, a propriedade cultiva também laranja e milho e engorda boi. Sim, o leite é a principal atividade, mas não a única, e todas estão interligadas. “Desde o início de sua história, em 1945, a Agrindus optou por estratégias de agregação de valor à matéria-prima”, diz.

Roberto Júnior mora na fazenda. Prefere estar próximo da lida mesmo tendo casa em Descalvado. “A grande maioria das vacas aqui na Agrindus permanece deitada. Você sabe a razão? É que, quando se sentem bem, os animais permanecem a maior parte do tempo deitados em descanso”, ensina Roberto. Com a convivência diária com o gado, ele passou a entender o comportamento dos animais. As fêmeas deitadas e preguiçosas na Agrindus superam em grande número as que estão em pé.

Pai de três moças, de 26, 22 e 21 anos, o agrônomo, formado há 22 anos em Espírito Santo do Pinhal (SP), ainda encontra tempo para gerenciar outras três propriedades da família, todas em Mato Grosso do Sul. Uma fica em Camapuã, onde por meio da tecnologia de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) nascem bezerros de cruza industrial de nelore com angus. A outra, em Corumbá, tem recria e engorda. Em Aquidauana, no Pantanal mato-grossense, Roberto comanda uma fazenda exclusiva para cria, que pertence a uma prima. A bezerra é comercializada na própria região, que possui uma forte pecuária de corte.

Melhoramento genético     

O ritmo de Roberto Júnior é acelerado, mas a pecuária é uma paixão. “Vou a cada 60 dias para as fazendas de Mato Grosso do Sul e permaneço entre quatro e cinco dias em cada uma”, diz ele, que também participa de entidades de classe dos pecuaristas. Roberto é vice-presidente de duas delas, a Leite Brasil e a Associação Brasileira dos Produtores de Leite.

A Agrindus foi fundada em 1945 por familiares de Roberto Júnior vindos da Alemanha em 1932, antes da ascensão nazista e da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Roberto Jank, o pai, também agrônomo, assumiu as rédeas do negócio no ano de 1961.

“Meu pai sempre acreditou na moderna tecnologia. Em 1967, ele foi para os EUA fazer um curso de inseminação artificial, técnica na época pouco conhecida no Brasil. Retornando, implantou a técnica por aqui. Não tenho dúvida de que a Agrindus foi uma das primeiras no Brasil a acelerar a qualidade do rebanho por meio da inseminação artificial”, afirma o filho.

Em 1975, o grupo deixou de usar touros, tornando o aprimoramento do rebanho muito mais veloz e seguro. O pai foi substituindo o gado pé-duro (mestiço), ruim de leite, por vacas holandesas puras (HPB-PO). Trouxe novilhas argentinas e sêmen resfriado de touros americanos comprovados na reprodução de vacas leiteiras.

Mais tarde, o advento de tecnologias como a transferência de embriões (TE) e a inseminação artificial em tempo fixo imprimiu mais velocidade e certeza ao melhoramento genético, elevando a produtividade das vacas.

São 4 horas da madrugada na Agrindus. Calmamente, 1.700 vacas holandesas puras de origem (HPB-PO) começam a dar entrada para a primeira ordenha do dia. Algumas delas fornecem a média expressiva de 60 a 70 litros de leite ao dia. São exceções. A média geral das fêmeas é de 38 litros ao dia e são realizadas três ordenhas durante as 24 horas. Para comparação, a média diária de leite no país está bastante aquém e é de 6 litros por vaca ao dia.

“Genética e alimentação fazem a diferença”, afirma Roberto Júnior. Como a agregação de valor pauta a atividade, a fazenda planta seu próprio milho para produção de silagem. Todo o grão vai alimentar a vacada e a complementação é feita também com o capim tifton cortado verde no verão. No inverno, aveia é destinada aos bovinos.

Sala de ordenha da Fazenda Agrindus 

Terminada a primeira ordenha, as fêmeas retornam ao trato e as informações sobre o volume de ração a ser distribuído a cada lote chegam via computador. A tecnologia permite que o trabalhador saiba de antemão a quantidade de silagem que vai para o cocho.  Não há desperdício. As outras duas ordenhas são realizadas ao meio-dia e às 8 horas da noite. Depois da última esgota, o ciclo recomeça. É preciso limpar e higienizar as salas de ordenha e alimentar o gado. “Às 3 horas da manhã, o pessoal responsável pelos silos está a postos”, conta Joel Custódio da Silva, gerente do setor de pré-parto da fazenda. Ele está há 14 anos na função.

Sala de ordenha da Fazenda Agrindus

 

Gado durante o descanso na Agrindus 

Foi Roberto quem implantou a terceira ordenha ao chegar à Agrindus, em 1984. Ele, com a permissão do pai, passou a confinar o gado. Foi um divisor de águas. “Solto no pasto, o gado leiteiro ocupava a fazenda inteira. A intensificação ao mesmo tempo diminuiu a área do gado enquanto a produção de leite subiu”, afirma.

As 1.700 vacas em lactação são mantidas em free stall (baia livre) e divididas em lotes de acordo com o status reprodutivo. Além da silagem de milho e dos alimentos concentrados, a dieta conta com forragem verde picada, colhida todos os dias.

Gado durante o descanso na Agrindus

O free stall é um galpão coberto, com uma cama de areia para cada animal. As vacas permanecem ali o dia todo confinadas e não se sentem desconfortáveis na temperatura elevada do Brasil. A raça holandesa, como o nome diz, é originária dos frios ambientais europeus.

Os funcionários Joel Custódio da Silva (à dir.) e Antônio das Dores Brambilla 

Para mover essa indústria, a Agrindus investe perto de R$ 2,5 milhões a cada dois anos em novos sistemas de ordenha automatizada, galpões para alojamentos das vacas e equipamentos que lhes proporcionam conforto térmico para enfrentar o calor, como ventiladores e aspersores nos estábulos. Desde o início, o melhoramento genético é usado par aprimorar a qualidade do gado, segundo Roberto. E olha que todas as fêmeas são puros-sangues holandesas, raça que mais produz leite em todo o mundo.

Os funcionários Joel Custódio da Silva (à dir.) e Antônio das Dores Brambilla


Usinas de leite

Recentemente, foi construída uma grande sala climatizada, que permite às vacas em pré-parto permanecerem sob uma temperatura confortável de 18 °C. Lá fora, no final de janeiro último, o termômetro marcava 30°C. As vacas holandesas são verdadeiras usinas de leite, mas não gostam do calor intenso. “O estresse térmico prejudica a qualidade do produto final”, afirma Roberto.

Toda essa tecnologia permite à empresa alcançar uma das mais altas produtividades por hectare do país: 40.000 litros de leite por hectare ao ano com o gado confinado. A média brasileira patina ao redor dos 1.600 litros por hectare.

Intensificar é outra das palavras mais usadas na Agrindus. “Permite ganho econômico e é sustentável, já que menos área é ocupada”, informa Roberto. A pecuária leiteira, que chegou a usar a área total da fazenda, hoje está acomodada em 500 hectares e seu espaço vai ficar mais acanhado. Produzir bem e em menor espaço é um dos requisitos básicos da moderna pecuária.

A Agrindus produz leite do tipo A. Entregue à Nestlé em carretas fechadas, a qualidade do produto permite receber R$ 1,45 pelo litro. Em 2017, a gritaria no país foi geral, pois o mercado estava cotando o produto a menos de R4 1 o litro. “É que o leite produzido aqui e que leva a marca Letti tem origem e é rastreado”, explica Roberto. A qualidade garante um preço mais alto. Como a carga bacteriana é mais baixa e o produto que sai da vaca é imediatamente pasteurizado, o tipo A tem 15 dias de validade.

A empresa, cujo faturamento no ano passado foi de R$ 65 milhões, possui um laticínio próprio e verticaliza a produção com derivados como iogurte de vários sabores, creme de leite e queijo fresco. “Fabricamos também um tipo único de iogurte grego sem lactose e que é servido na forma de bebida”, diz. Os derivados são distribuídos em 60 cidades de Estados como São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais. “Em nove municípios, entregamos nos domicílios”, informa o fazendeiro.

A obsessão pela qualidade levou a Agrindus a ser a única no Brasil do setor leiteiro a receber a certificação Kosher. O documento atesta que os produtos obedecem a normas específicas e rígidas que regem a dieta judaica ortodoxa, explica Roberto. “O certificado é reconhecido mundialmente e atesta que o produto possui controle máximo de qualidade.” E mais: rabinos espalharam câmeras pelas áreas de produção e fiscalizam o sistema de ordenha ao vivo, conta o pecuarista.

Enquanto a produção de leite aumentou, a área ocupada com a atividade diminuiu. Cedeu lugar para a introdução da laranja, em 2003. Hoje, a fruta ocupa 40% do espaço total da fazenda. Segundo Roberto Júnior, leite e laranja oferecem segurança ao caixa da Agrindus. É que o primeiro tem custos em dólar e a remuneração é em real. No caso da fruta, os contratos de venda são estabelecidos pela moeda americana e os custos fixados em reais. “Colhemos 870 mil caixas ao ano e o preço da laranja melhorou bem nas duas últimas temporadas”, diz.

A Agrindus também confina gado e usa 17% da área com a pecuária de corte. Engorda 1.500 cabeças ao ano. Já o milho e a pecuária de leite ocupam 30%. O grão é utilizado na alimentação do gado de corte e leite, barateando os custos. Roberto informa que 23% da área é de Reserva Legal. No Estado de São Paulo, toda propriedade rural tem de ter 20% de sua área protegida.

Como é uma das maiores referências em seleção genética do país, a Agrindus faz disso uma importante fonte de renda. Uma vez ao ano, realiza um leilão para comercialização de animais. Coloca em oferta vacas e novilhas e acrescenta habitualmente pelo menos R$ 1,5 milhão ao seu caixa. Cerca de 1.000 fazendeiros marcam presença.                                        

Leilão

Revista Globo Rural – Texto (adapatado pela Equipe IDEAGRI) : Sebastião Nascimento / Fotos: Rogério Albuquerque e Fabiano Accorsi

Revista Globo Rural – Texto: Sebastião Nascimento / Fotos: Rogério Albuquerque e Fabiano Accorsi