A necessidade de profissionalização da produção do agronegócio é um consenso geral. O grande desafio é gerenciar a produção de maneira moderna, visando a sobrevivência e o crescimento da empresa rural ao longo dos anos, sabendo que ela é o elo mais frágil da cadeia produtiva. O artigo aborda a obtenção de índices efetivos para a tomada de decisões no âmbito administrativo.

Por Diego Palucci Pantoni e Regis Henrique Ferreira - médicos veterinários – Equipe ReHAgro

Artigo publicado na InteRural - Revista do Agronegócio - Novembro 2010

Há alguns anos, tem-se falado sobre a necessidade de profissionalização da produção do agronegócio num contexto geral. Mas, o grande porém é como gerenciar a produção de maneira moderna, visando à sobrevivência e ao crescimento da empresa rural ao longo dos anos, visto que o setor produtivo do agronegócio, por representar o elo mais frágil da cadeia produtiva, é aquele que mais intensamente tem sofrido as conseqüências das novas exigências do mercado.As inovações exigidas no campo vão desde a adoção de tecnologias até a administração, que deverá ser, cada vez mais, baseada em conceitos de mercado e exigência do consumidor.

Assim, é evidente que os novos tempos da economia brasileira passam a exigir atenção redobrada do empresário rural na administração de sua empresa, uma vez que a estabilidade da economia e a maior concorrência empurram para baixo as margens de lucro. Nesse contexto, a gestão eficiente e ativa é fundamental na condução da empresa.

Quando se fala em gestão eficiente e ativa, um ponto de extrema importância é a formação de dados para visualização da situação real, a discussão de pontos para melhoria da empresa e a realização de Benchmarkings (comparações). Como exemplos de dados importantes nas tomadas de decisões, podemos citar: 'Quanto custa o quilo de volumoso que você fornece aos seus animais? Qual o valor do seu “contas a pagar” para os próximos 15 dias? Há saldo na conta para pagamento deste montante? Qual o valor da novilha ao parto em sua propriedade? Qual a idade média ao 1° parto? Quanto custa o litro de leite produzido em sua fazenda? Qual o valor da hora trabalhada do seu trator? Qual o ponto de equilíbrio da atividade na sua propriedade?'. Estes são apenas alguns dentre outros tantos pontos que merecem controle.

No que tange à gestão financeira e econômica, duasferramentas são essenciais e nos trazem grande número de informações que são importantes e vitais para a administração do negócio, sendo elas: fluxo de caixa e custo de produção. A gestão financeira e econômica deve estar sempre aliada a uma gestão técnica, com o objetivo constante da eficiência.

Fluxo de caixa

A elaboração do Fluxo de Caixa consiste na demonstração das saídas e entradas de recursos financeiros na empresa. O fluxo de caixa, para ser usado como uma ferramenta de gestão, deve sempre estar aliado a um orçamento detalhado mensalmente, pois, somente com ele, não será possível enxergar o futuro da empresa, principalmente os compromissos futuros ainda não estabelecidos. O acompanhamento do orçamento ajuda o empresário rural a não perder o foco do projeto estabelecido, pois o capital que está em sua conta bancária (e que parece estar sobrando), quando melhor estudado, pode ser usado para a compra estratégica de insumos da safra. Os principais objetivos do fluxo de caixa e orçamento são:

-Representação visual das quatro dimensões do capital: moeda, valor, tempo (data) e direção (pagamento ou recebimento);

- Informação do saldo diário, semanal, mensal ou anual da empresa rural visando a tomada de decisões (investimentos, planos de expansão, gerenciamento de passivos e ativos, compra e venda estratégicas, compras associadas, negociação com fornecedores e clientes);

- Previsão da necessidade de dinheiro em caixa para pagamentos e a quantidade estimada de recebimentos, possibilitando visualizar a necessidade ou não de capital externo;

- Possibilidade de uma análise para os novos investimentos a serem realizados e quando poderão ser pagos;

- Possibilidade de comparação do previsto x realizado, mostrando o impacto disto no caixa e, principalmente, na viabilidade da atividade;

- Possibilidade de criação de estratégias de compras, conhecimento de quanto se pode gastar e visualização de opções de pagamentos.

Custo de produção

O cálculo do custo de produção é uma ferramenta de suma importância para o empresário que pretende acompanhar a constante evolução de sua empresa. De posse das várias informações que o controle de custos nos permite ter, o empresário agrícola terá maior fundamentação para tomada de decisão adequada a fim de melhorar seu sistema de produção, tendo uma melhor capacidade de negociação.

As estimativas de custo de produção servem também para o governo elaborar políticas agrícolas, estabelecendo preços mínimos, subsídios e linhas de crédito. Para as entidades de classe, serve como parâmetro para a reivindicação de melhorias de preço do produto e isenção de impostos, como também ao planejamento da atuação para favorecer os produtores rurais.

A utilidade mais ampla de controle de custos é a avaliação econômica da atividade. Com um bom controle é possível, ao final de um período, avaliar o desempenho econômico. Essa avaliação é importante para que se visualize a sustentabilidade da atividade.

A gestão de custo mostra ao empresário rural, no resultado econômico, os índices passíveis de serem comparados a outras atividades (remuneração do capital investido, lucro/ha, margem líquida/litro de leite) possibilitando, assim, a tomada a decisão de permanecer ou sair da atividade.

É importante dizer que os custos de produção são muito variáveis de região para região e até entre fazendas vizinhas, pois cada sistema de produção é muito particular.

A abertura e divulgação dos custos de produção são comuns na atividade agropecuária, o que pode se tornar muito perigoso para o produtor, pois os clientes com este número em mãos, podem ter um poder de negociação muito maior. É impossível imaginar a Coca- Cola, por exemplo, mostrando o custo de produção de um litro de refrigerante, mas é muito comum entramos em vários sites de estudos de custo de produção agropecuário e buscar o custo de produção de várias atividades.

Na gestão técnica, dentre as ferramentas disponíveis, a mais conhecida e utilizada é o Monitoramento de Índices. O monitoramento de índices com estabelecimento de metas tem grande potencial para geração de resultados na empresa.

O monitoramento de índices é elaborado de uma forma lógica, onde são definidas e implantadas variáveis de controle (índices), metas e interpretações. Funciona como um sistema de mensuração do desempenho que fornece suporte às decisões estratégicas.

Para cada índice há uma meta previamente definida, sugerida pelo técnico da fazenda, que deve ser perseguida por todos os envolvidos.

A cada período são fechados os índices técnicos e comparados com a meta. Se houve desvio, descobre-se a causa e traça-se um plano de ação para corrigi-lo de maneira que, na próxima análise, a meta possa ser alcançada. Quanto menor o intervalo de análise dos índices, maior as chances de alcançar a meta, pois se atua sobre as causas dos desvios com maior frequência.

A gestão por índice mostra o quanto se está sendo eficiente e quanto ainda é possível melhorar. Ajuda também a mostrar o impacto positivo ou negativo de uma nova conduta técnica.

Esta gestão mostra que o técnico envolvido no projeto tem que estar sempre em busca de novos conhecimentos com o objetivo constante de trazer novas soluções técnicas que impactem em uma redução de custo, mostrando assim uma maior eficiência.

Considerações finais

Como se pode perceber, a implementação de ferramentas de gestão traz muitos ganhos para uma administração eficaz da empresa. Planejar, executar, comparar o planejado com o executado, traz um grande conhecimento para empresa sobre o negócio.

É importante ressaltar que toda e qualquer gestão precisa, como pré-requisito básico, de um rumo, uma definição, pois, para chegar rápido ao sucesso é preciso que se caminhe com velocidade, porém na direção correta. Quem caminha na direção errada pode estar aumentando o tamanho do percurso ou até mesmo não chegar a nenhum lugar. Sendo assim, antes de começar a correr, defina para onde você quer ir.

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